terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

"Dez entre dez brasileiros preferem feijão"

Reprodução


"Ideologia, eu quero uma pra viver". O verso imortalizado de Cazuza tem origem certa, jovem carioca de classe média alta filho de executivo de grande gravadora. Nada que o desmereça enquanto grande artista do pop rock brasileiro. Porém, seu discurso tem limitações sócio-ecônomicas dentro da realidade nacional. Ou alguém imagina Zezé di Camargo e Luciano levantando a mesma questão "angustiante e existencial" em seu repertório, dito popular?


Trecho da reportagem "Classe A ganha mais 303 mil famílias", publicada no caderno de Economia do Estadão de domingo, 21 de fevereiro de 2001): "Enquanto as classes B e C têm aspirações de consumo muito claras, como casa própria, um carro, uma TV de plasma, os integrantes da Classe Ajá dispõem de todos os bens considerados essenciais."


Se usarmos a mesma comparação em relação à dita nova classe média brasileira poderíamos dizer - com margem mínima de erro -algo parecido: Os membros da classe média e média alta tradicional brasileira já têm seu carro, sua casa própria, e seus filhos nas (boas) universidade(s) e médios ou bons planos privados de saúde.


Enquanto isso, o novo grupo sócio-econômico que emerge no Brasil, tem como preocupações básicas questões de subsistência (melhor alimentação, busca de melhor educação para os filhos - fora da escola pública, preferencialmente; planos de saúde -ainda que de baixa qualidade, mas muito melhor do que as intermináveis filas da saúde pública), e dinheiro (ou crédito) para comprar um terreno ou para construir suas casas, ou mesmo comprá-las na periferia dos grandes centros ou no inteiror do país.


Assim, a classe média e média alta, estruturada no que diz respeito às condições básicas de subsistência, têm condições de se preocupar com aspectos ideológicos dos governos e usá-los como discurso de oposição. Ainda que, do âmbito prático da vida (o de subsistência) esta oposição não se justifique quando transformada em discurso.


Quanto ao novo grupo emergente, para este - por motivos óbvios -, pouco importam questões ideológicas, já que, por experiência de vida eles sabem que ideologia não paga contas ao final do mês, muito menos põe comida na mesa ou paga remédio na farmácia ou internação em hospitais.


Dito isso, vou tomar um chá...

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