segunda-feira, 30 de julho de 2007

O joio e o trigo






"Metade dos brasileiros acha que todos os políticos roubam. Quase metade acha que político honesto não tem sucesso na política. Nada menos do que 40% de nossa população adulta considera que 'é melhor um político que faça muitas obras, mesmo que roube um pouco, do que um político que faça poucas obras e não roube nada'. "


Assim começa o curioso artigo publicado pelo diretor de Planejamento da Ipsos Public Affairs e autor de "Por Que Lula"(Record) Alberto Carlos Almeida no caderno Eu & Fim de Semana do jornal Valor Econômico da última sexta-feira, 27 de julho.


Os resultados não são apenas estes: 39% considera que políticos muito honestos não sabem governar e também 39% acha que "político que faz muito e rouba um pouco merece o voto da população". Muitos ficarão escandalizados com esses resultados. Serão aqueles cujos valores são contrários ao valor do"rouba, mas faz". Um pequeno exercício permite compreender por que grande parte de nossa população pensa assim.


O nível de carências é muito grande. É enorme o contingente de nossa população que vive sem atendimento médico minimamente adequado, sem condições de moradia razoáveis, preocupado com o fato de estar empregado no dia seguinte e por aí vai.


Para essas pessoas, qualquer tipo de ajuda já é um benefício. Mais do que isso, não faz parte de suas preocupações o combate à corrupção, mas sim o combate ao mau atendimento médico e à criminalidade, justamente dois problemas que a atingem no dia-a-dia.


Alguns vão afirmar que uma coisa tem a ver com a outra. Com menos corrupção se teria melhores saúde e segurança pública. Isso pode ser verdade; porém, a conexão entre os dois fenômenos é muito complexa.


É mais fácil combater a corrupção tratando do "nosso dinheiro", tratando dos impostos. Isto é, o dinheiro utilizado pelos políticos para enriquecimento pessoal, quando acontece, é o nosso dinheiro, porque foi tirado de nós por meio de impostos.


Mas aí cabe a pergunta, para qual fatia da população os impostos são visíveis? Grande parte da população brasileira paga os impostos do consumo. Diferentemente dos Estados Unidos, onde o preço na prateleira é um e o preço no caixa é outro, e a diferença se deve à tributação, no Brasil o brasileiro não vê e não sabe quanto paga de impostosquando faz uma compra.


Quem paga Imposto de Renda vê claramente os impostos. Mas quem paga somente os impostos embutidos nos preços de serviços e produtos não é capaz de notar a presença dos impostos. Essa população é, em grande medida, a mesma população de baixa renda que não se preocupa com a corrupção ou tem, na corrupção, uma preocupação menor do que saúde e segurança pública.


Portanto, para aqueles envolvidos em mostrar a conexão entre serviços públicos de qualidade e combate àcorrupção, o elo principal dessa conexão é a visibilidade e presença dos impostos.


ESTE MISSIVISTA acha torta a teoria para a qual essa pesquisa foi realizada.


SEGUE: Pelo raciocínio do articulista, as carências de ordem prática da população "justificariam" um certo afrouxamento ético que deve ser condenados por aqueles que são "de bem".


Parece um discurso subliminar meia boca criado para tentar separar o joio do trigo, para usar expressão conhecida de todos. No qual o joio seria o eleitorado da situação e o trigo o eleitorado da oposição...