segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Sorriso e a lágrima


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"Em homenagem à Dona Clô (in memoriam)"

Estamos no século 21 e ainda não sabemos muito sobre a vida. Porém, sabemos sobre alegrias e tristezas. Faces de uma mesma existência. Certo é que algumas pessoas têm o dom de, a partir de suas belas  e singelas visões  sobre a vida, compartilhar sentimentos de alegrias com aquelas que não alcançam facilmente tal dádiva.

Quando alguém com tal luz parte para outras experiências, ficamos por aqui com duas sensações em alta nos momentos imediatos após a despedida: a tristeza pela falta que ela fará, e as memórias alegres dos momentos compartilhados.

Convivi com a mãe do Zé por duas ocasiões. Às vezes o pouco vale muito. Logo no primeiro encontro pude perceber que sua luz que iluminava qualquer ambiente em que estivesse, transformando-o num palco. Um espaço sagrado para experiências ricas e felizes, no qual ela compartilhava em cena - com a maior alegria e boa vontade - seus ensinamentos e histórias, baseadas nos fatos reais que compuseram o texto de sua vida quase centenária.

Entre a primeira e a segunda visita, a lembrança da luminosidade, do semblante feliz, da fala humorada e sábia conviviam com a expectativa pelo próximo estar junto. Tal fato aconteceu cerca de dez anos depois, em seu  lar, espaço de um aconchego só e casa de espetáculos de vida a qual fui um dos privilegiados a frequentar.

Passados cerca de dez anos e nada, nem o peso da idade e o desgaste da saúde foram capazes de diminuir a intensidade da chama que ela compartilhava de forma prazerosa e intensa com quem estivesse próximo. 


E foi neste espaço que a cena do encontro se deu. Já no finalzinho da noite de um sábado de outono. Céu aberto, iluminado pela lua e temperatura amena. Na mesa da sala, um café com pães, bolos, frios, leite e manteiga para os convivas. 

Não saberia dizer se o mais saboroso era sua presença de palco, seus gestos pequenos mas cheios de expressão, ou se seriam suas falas, sequência escrita no decorrer do espetáculo de sua vida.

Ao final de cada visita, verdadeiros espetáculos, a mãe do Zé sempre agradecia aos presentes e deixava o sincero convite para um retorno em breve. Tentação que atiçava a ansiedade pelo próximo encontro.

Porém, a temporada se encerrou de forma abrupta, no último sábado, 7 de agosto de 2010. Mas não há motivo para entristecimento! O espetáculo encerra turnê aqui para começar logo logo em outro lugar, com sucesso de público e crítica garantidos.

E, afinal de contas, não devemos ser egoístas desejando este espetáculo eternamente apenas para nós. Devemos sim, estar felizes porque a atriz segue com sua peça para quantos mais tiverem -e onde estiverem- serem alegrados.

Um viva e um obrigado por ter feito tanta gente feliz! 

À família Cetra, com imenso carinho.

Emerson Lopes da Silva
Segunda-feira - 9 de agosto de 2010 - Meia noite e meia.

5 comentários:

  1. Caro Emerson,

    É muito legal ver esse registro carinhoso da homenagem, mesmo que seja a alguém que não tivemos a oportunidade de conhecer.
    A memória não existe se não celebrada, brindada, eternizada, no gesto público do reconhecimento.
    Abraço,
    pedro ponta

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  2. Meu querido, como eu lhe disse eu compartilhei a sua linda homenagem com outras pessoas queridas. Como disse uma prima minha, com o pouco contato que teve com a Clô, você conseguiu sintetizar a figurinha que ela era.Com certeza ela está lá no palco iluminado agradecendo os aplausos que você lhe dedicou.Obrigado de coração. Beijão do Zé Cetra.

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  3. Que lindo!
    Adorei conhecer em seu texto a Dona Clô!
    Beijos grandes, a vc e, principalmente, um abraço apertado para o Zé Cetra, amigo novo e já muito querido.
    Suzana Ribeiro

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  4. Emerson, é muito bonito ver uma pessoa sensível, para olhar e admirar o outro, ainda que apanhado pelas adversidades da vida, poder dar seu apoio para aqueles que têm seu carinho. É isso: enfrentar as dificuldades, com a generosidade de gestos lindos como o seu.

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  5. Emerson, sua sensibilidade e principalmente sua capacidade de transformar sentimentos em palavras são brilhantes.
    Beijos.

    Vanessa

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