terça-feira, 7 de setembro de 2010

A "cratera" no Jaraguá e um outro jornalismo


                                    Imagem: Reprodução 

Não sei ainda qual a melhor definição sobre o que vem a seguir. Mas realmente alguma coisa acontece no processo de disseminação de informações nos dias de hoje. Tal mudança  tem alterado a distância - tanto física quanto simbólica, em termos do que poderíamos chamar de "relevância jornalística para a grande imprensa" - entre "centro" e "periferia".

Enfim, o fato é que um buraco localizado duas ruas atrás de onde moro, no bairro do Jaraguá, Zona Noroeste da cidade de São Paulo, foi tema do quadro "Proteste Já" do programa CQC exibido nesta segunda-feira, 6 de setembro de 2010, na TV Bandeirantes. 

Descontando a linguagem irreverente do programa e focando no retorno efetivo desta cobertura jornalística para a população local, diria que a reportagem de mais de 11 minutos e 27 segundos -quem trabalha com TV sabe o quanto esse tempo é longo- feita por Danilo Gentili surtiu efeitos práticos, embora ainda não definitivos, para os moradores da região, entre os quais me incluo.

A despeito de reclamações feitas anteriormente junto à Subprefeitura Pirituba-Jaraguá, apenas após a reportagem do programa exibido em rede nacional, a CET (Cia. de Engenharia de Tráfego) colocou barras de concreto para bloquear o acesso à rua Batista Buonamente, onde está localizada a "cratera".


Como estamos na terra de Macunaíma, a "meia solução" "preserva" a segurança da população local, ao mesmo tempo que atrapalha o tráfego local, fazendo com que pedestres e veículos tenham de fazer contornos por ladeiras ao redor para chegarem ou saírem de seus destinos.


Um outro jornalismo

Já faz algum tempo que o jornalismo tem sido discutido e questionado tanto entre seus profissionais quanto entre a população e as conclusões têm sido, em boa parte, negativas em relação à profissão; principalmente quando abordadas coberturas política, econômica e cultural, entre outras. Porém, tem chamado a atenção o fato de a menos glamurosa das áreas desta profissão - a que cobre buracos de rua, enchentes, trânsito, etc., ser aquela com relevante (maior?) poder de "impacto real e (quase que) imediato" na vida da população.

Por outro lado, o acesso fácil a recursos de captação e propagação de informações, como celulares com câmeras e internet (ainda que em lan houses) tem permitido cada vez mais que problemas de áreas periféricas cheguem aos olhos e ouvidos de uma audiência mais ampla, "pressionando" assim as autoridades para que cumpram com eficiência o papel que lhes é cabido na sociedade.

Parece que, ainda em uma velocidade mais lenta do que a ideal, os veículos de comunicação têm percebido o aspecto cada vez mais ativo de sua audiência e, a partir desta constatação, têm buscado interagir com ela, até para que não percam sua credibilidade e para que cheguem o mais rápido possível ao local onde o fato que é realmente importante para seu público esteja acontecendo.

A consequência positiva deste processo - ainda embrionário nos meios de comunicação brasileiros - é o reflexo direto na postura de órgãos e pessoas públicas, que tendem a serem cada vez mais cautelosos em relação aos seu atos. Porém, tudo a seu tempo... A conferir...

Abaixo, a reportagem do CQC e alguns links que encontrados no Google sobre o caso:


CQC:

Portal G1 de 13 de agosto de 2010 (replicando o programete Radar da TV Globo):

Jornal da Tarde de 16 de janeiro de 2010

Portal Estadão de 16 de janeiro de 2010:

Um comentário:

  1. Abomino esse programa televisivo, mas concordo com suas observações. O jornalismo brasileiro, já há algum tempo, assumiu sua face elitista descarada, o público-alvo é inconfundível: classe média alta e os novos ricos. Problemas da população mais pobre não tem vez, a não ser que seja para expor ladrões de galinha (e ganhar audiência) com programas lamentáveis como o do Datena - mas aquilo não é jornalismo, é RP de policiais e delegados. E essa produção de informação direcionada é reflexo, também, da elitização das redações. Pobres também não tem mais vez no quadro de jornalistas. Enfim, virou piada interna, boletim de condomínio de luxo. O ponto positivo é que, gradualmente, mais pessoas vão deixando de acreditar piamente nos grandes veículos de massa, simplesmente porque não refletem em nada a vida delas. Amém!

    ResponderExcluir